É impossível ficar indiferente à ocorrência da COP25, a cimeira das Nações Unidas sobre o clima. É também impossível, infelizmente, dissociar as preocupações com o clima dos excessos das soluções radicais, sem equilíbrio, e, muitas vezes, sem fundamento científico quanto à sua eficácia ou relevância. E é, ainda, difícil focar apenas nas questões climáticas, mediante tantos outros problemas ambientais, como a poluição do meio marítimo com plásticos e outros detritos.
Existem outros problemas, que têm sido identificados e estudados, que decorrem das alterações climáticas e do aumento de poluição, mas também de outras causas, e cuja solução exige uma resposta mais transversal. Um grupo financeiro japonês prevê uma crise humanitária, em que metade da população mundial pode vir a ser afetada por aumentos de preços brutais dos alimentos, provocados pelas alterações climáticas. Acontece que a pressão nos preços dos alimentos também está a ocorrer devido ao aumento da procura, que resulta de, pelo menos, duas coisas: por um lado, as melhorias qualitativas na alimentação nos países mais desenvolvidos, e, por outro, do aumento exponencial da população mundial nos últimos séculos.
Uma das fórmulas da moda para reduzir a pegada ambiental da produção alimentar tem sido substituir a produção intensiva por processos biológicos e naturais mais amigos do ambiente, mas, objetivamente, menos eficazes na quantidade produzida. Esta solução não reduz a pressão que provoca o aumento de preços dos alimentos. No entanto, soluções como o uso de alimentos geneticamente modificados são apressadamente condenadas por alguns dogmáticos que pretendem limitar ou proibir o seu uso, quando, precisamente pelas suas características especificamente desenvolvidas, podem ser a solução para aumentar a oferta alimentar e diminuir a pressão sobre o ambiente. Ou seja, em áreas menores e salvaguardando as florestas e os habitats, é possível produzir mais, o que parece ser uma solução mais favorável à conservação do que propriamente a produção natural.
Quanto ao consumo energético, os combustíveis fósseis são poluentes, e a pressão para se encontrarem alternativas tem levado a um excessivo e desmesurado entusiasmo com as soluções de mobilidade elétrica baseadas nas baterias, cuja pegada ecológica é grande e cuja tecnologia necessita de minérios escassos. A segurança destas soluções ainda não é um dado adquirido e alguns produtos com baterias já estão proibidos de serem transportados como carga aérea. Há que insistir no desenvolvimento de soluções eventualmente melhores, como o hidrogénio ou o gás natural liquefeito, sem cair na cegueira atual que está impor a solução elétrica a baterias à base no lítio.
A questão de fundo é que, infelizmente, tem havido muito ruído, muito alarmismo e alguma precipitação em relação às soluções a adotar ou a rejeitar, como por exemplo, nos casos referidos. Cada vez parece mais óbvio que as soluções para estes problemas de escala global têm que passar por repostas cientificamente fundadas, por mecanismos que não sejam piores que os problemas que tentam resolver, e cada vez menos por entusiasmos com protagonistas e modas que se transformam em soluções políticas, muitas vezes caras mas irrelevantes. A conservação do planeta assim o exige.
03/12/2019
Nuno Melo Alves